Aos 65 anos, Silvia Pfeifer comanda programa de poesia em rádio, recorda os tempos de modelo internacional e diz que ainda bebe da fonte do minimalismo de Armani
“No auge da crise sanitária provocada pelo coronavírus, não li um romance sequer. Estava tensa, sem concentração. Encontrei nos poemas um escape”, conta a gaúcha Silvia Pfeifer. Radicada no Rio de Janeiro, a atriz que está no ar na Globo atualmente com a terceira reprise de O Rei do Gado (novela que, desde o retorno, lhe trouxe 200 mil novos seguidores no Instagram) fez de tal escape o pontapé de um novo projeto profissional. Em agosto passado, aos 64 anos, Silvia estreou na rádio. Seu programa Sons&Poesia, apresentado na BPMRádio Brasil, mistura músicas de variados ritmos com textos de Cecília Meireles, Carlos Drummond de Andrade e Mario Quintana, recitados por ela. Multitalentosa, esta não é a primeira vez que ela experimenta ou faz uma transição na carreira artística. Antes de suas mais de três décadas na teledramaturgia brasileira, Silvia teve uma trajetória de sucesso nas passarelas e foi uma das modelos que mais ganhou fama no país.
Filha de um engenheiro civil, se mudou de Porto Alegre para o Rio na década de 1960, e ali cruzou com a moda por acaso. “No último ano do ensino médio, fui muito ligada a duas meninas, e uma delas me incentivou a acompanhá-la em um curso de modelos. Eu era jogadora de vôlei e me achava grandona, desengonçada à beça. Era minha oportunidade de ganhar um tiquinho de finesse”, diverte-se. Disciplinada, a gaúcha de 1,81 metro acabou se sobressaindo nas aulas e foi convocada pela professora para a seleção de um desfile da Duloren. “Eu me achava estabanada, mas o esporte me deu consciência corporal. Também pratiquei balé clássico na infância.” Silvia ganhou a vaga no show e as portas foram se abrindo uma a uma. “Tranquei, inclusive, a faculdade de direito por falta de tempo. Na sequência, tentei regressar no curso de comunicação social, mas o ritmo de trabalho me impossibilitou.”
Renomada no Brasil, foi tentar a sorte no outro lado do Atlântico, no início da década de 1980. O roteiro não saiu como previsto. “Na Europa, procurei uma agência indicada pela ex-modelo Betty Lago (1955-2015). Não deu certo por inúmeras razões, mas aprendi a lição. Refiz meu book e fui atrás de novos representantes. O retorno a Paris, na temporada seguinte, em 1982, foi triunfal: fiz 14 desfiles, incluindo Dior e Chanel. O que mais eu poderia querer? Na sequência, Giorgio Armani, na Itália, caiu de amores por mim e me escalou para quase tudo, menos para a campanha”, recorda.
Como nascimento da primeira filha, Emanuella, em 1985, a gaúcha, já casada com o empresário Nelson Chamma Filho, decidiu tentar a carreira de atriz. Preparou-se por dois meses com a diretora teatral Bia Lessa para participar do filme A Grande Arte, de Walter Salles, porém foi preterida no último momento, postergando assim sua estreia no cinema. Frustrada, tentou desbravar o mercado americano. “Na verdade, fui afogar as mágoas”, brinca. “Rodei bastante por Nova York até cair a ficha que minha bebê estava no Brasil; e eu ali, subindo e descendo aquelas avenidas. Voltei. Assim que cheguei em casa, recebi uma ligação da minha equipe dos Estados Unidos informando que Carolina Herrera e Bill Blass queriam trabalhar comigo. Mas eu já havia virado a chave.”